Jornal, Site e Dispositivos de Interação Virtual

Na realidade a experiência da Cris Brasil serviu para consolidar uma visão sobre a profunda diferença entre um jornal e um site (de uma comunidade).
 
O Jornal é uma expressão de algo que podemos chamar de cultura do livro, enquanto um site é expressão do que podemos chamar cultura da WEB.
 
Na realidade ambos podem ser considerados "Dispositivos de Interação Virtual" (DIVs). Os DIVs podem ser definidos como instrumentos artificiais, alternativos a comunicação "cara à cara".
 
Conforme Navarro, "la forma de interacción originaria de nuestra especie, la interacción cara a cara, es una interacción real, en acto. Por el contrario, los dispositivos artificiales de interacción ­cuyo desarrollo coincide con el avance mismo de la civilización­ posibilitan todos ellos distintos tipos de interacción en potencia, o, si se quiere, de interacción virtual. Tomemos como ejemplo la escritura, uno de los dispositivos artificiales de interacción más decisivos. Cuando un escritor escribe una novela, no está interactuando realmente, o, mejor dicho, "en acto", con los posibles lectores de esa novela. Pero es evidente que está interactuando virtualmente con todos esos lectores potenciales". (Lo virtual es aquello que no es real, pero genera, en cierto modo, los efectos de lo real)” (Navarro, Internet como Dispositivo de Interação Virtual, artigo na Internet,1997, negritos nossos).
 
Navarro observa, portanto, que a comunicação humana, conta com um formato natural, "congênito à espécie e sempre disponível" que é a interação "cara à cara”. Trata-se da interação ”em presença física, real e imediata de agentes interatuantes”.

 
Este formato de interação e comunicação é extremamente rico e conta com diversos canais sensoriais (visão, audição, tato, olfato, para falar dos que conhecemos). Este tipo de interação combina diferentes códigos lingüísticos como o gestual e o verbal fundamentalmente distintos, mas que podem contar com uma fina sincronização.

 
Mas se tem esta riqueza de ser flexível, cheia de matizes e eminentemente amigável, por outro lado este formato interativo tem duas debilidades: a pouca extensibilidade e, como conseqüência, a sua limitada conectividade. Ela está totalmente restrita pelas condições espaço-temporais do mundo físico em que estamos encravados.

 
Para que a espécie humana pudesse desenvolver seu potencial de sociabilidade potencial e criar estruturas sociais mais amplas e complexas, foi preciso viabilizar uma interação não-natural, diferente da mera interação cara a cara” através da criação de dispositivos, que apesar de não terem a mesma flexibilidade, contam com uma grande conectividade e são capazes de viabilizar a relação entre agentes impossíveis impossíveis de serem relacionados em um mesmo tempo e espaço.

 
O dinheiro e a escrita são exemplos deste tipo de dispositivo, que “desarticulam a topologia interativa ‘natural’ do meio social humano, y separam no espaço e no tempo as ações respectivas dos agentes interatuantes”. Estas ações, de certo modo "se deslocalizam": ações fisicamente contíguas deixam de estar relacionadas, e outras que não se relacionam no tempo no espaço se convertem em instrumento de interações espectrais à distância.

 
Um Jornal e um Site podem assim ser considerados Dispositivos de Interação Virtual. No entanto, as características destes dois dispositivos são totalmente diversas. O primeiro é um elemento constituinte e determinado de uma cultura onde existe carência. No segundo, o problema é dar conta de grandes volumes de informação.

 
Evidentemente isto tem profundas consequências práticas.

Sobre Nilton Bahlis dos Santos

Nilton Bahlis dos Santos é doutor em Ciência da Informação (UFRJ/IBICT), pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz); lider do Grupo de Pesquisa "Tecnologias, Cultura e Práticas Interativas e Inovação em Saúde", certificado pela Fiocruz/CNPQ; professor permanente do PPGICS (Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde) Icict/Fiorcruz e professor colaborador do PGEBS (Programa de Pós Graduação de Ensino em Biologia e Saúde) IOC/Fiocruz. É Coordenador do Núcleo de Experimentação de Tecnologias Interativas (NEXT/FIOCRUZ), Host do TedXFiocruz e membro da Coordenação do Observatório para la Cibersociedad (OCS),. Foi Fundador e Coordenador do Clube do Futuro, fundador e Diretor do Centro Nacional de Quadrinhos, Roteiros e Imagens e um dos criadores da Bienal Internacional de Quadrinhos, tendo sido curador e produtor de suas 3 edições (1991/1997). Atua nas áreas de Ensino, Interdisciplinar, Ciência da Informação, Saúde Pública, Sociologia de Redes, Educação, Comunicação, Promoção da Saúde e Popularização da Ciência. É editor, jornalista, produtor gráfico e cultural, especialista em sistemas complexos e Interativos; Especialista em Redes Sociais, modera comunidades virtuais e faz consultoria em políticas para a Internet, Sistemas de Informação e Comunicação, Educação e Rede e EAD e Internet das Coisas (IOT). Em seu Currículo Lattes os termos mais frequentes na contextualização da sua produção científica, tecnológica e artístico-cultural são: Redes Sociais, Internet das Coisas, Inovação, Informação, Comunicação, Saúde Coletiva, Tecnologias e Práticas Interativas, Internet, Sistemas Complexos, Educação Não Formal, Educação em Rede, Comunidades Virtuais, Popularização de Ciência e Organização da Cultura.
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